Card. Kasper: evangeliza Igreja da mão estendida, não do dedo apontado

foi o que disse o presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Walter Kasper, ao Congresso Apostólico Europeu da Misericórdia, em andamento na “Basílica de Santo André della Valle”, em Roma.

As culpas dos cristãos

Se Deus tornou-se um estrangeiro sobretudo na Europa e em nosso mundo ocidental, “os cristãos têm uma certa culpa”, porque “correntemente falam de Deus num modo que não corresponde exatamente ao Evangelho, à Boa Nova; muitas vezes falam não do Deus, que está no Evangelho, mas de um Deus que dá medo, ameaça, pune”, disse o purpurado alemão.

É o tempo da misericórdia

“Hoje chegou o tempo não das armas do rigor, mas da medicina da misericórdia” – já firmava o Papa João XXIII. “Hoje é o tempo da misericórdia” – diz o Papa Francisco. A Igreja hoje é chamada a ser um hospital de campanha”.

Misericórdia não é bondosismo

“Seria uma simplificação, ou melhor, um grave equívoco – observou o Cardeal Kasper –, opinar que a misericórdia é somente um certo bondosismo, e dê testemunho de um Deus, por assim dizer, simplesmente gentil e inócuo, que não leva a sério o mal e os pecados. Não se pode aplainar o conceito de misericórdia” fazendo-o desembocar “num cristianismo a bom preço”.

Portanto, “é totalmente errôneo colocar em contraste verdade e misericórdia como alguns fazem”, porque “a misericórdia não tira as verdades da fé, pelo contrário, lhes dá fundamento”.

Onde não há misericórdia vivem os demônios

“A misericórdia abre-nos o caminho para a nova evangelização” – ressaltou o purpurado – e “nos leva à atualização do anúncio do Evangelho.” “Com a sua misericórdia Deus é fiel a si mesmo – ou seja, é justo. Deus não está ligado a nossas regras de justiça, Ele está ligado somente a Si mesmo e à sua caridade.” “Sem a misericórdia, a suma justiça pode ternar-se suma injustiça. Onde não há misericórdia vivem os demônios, disse Dostoevskij.”

Uma Igreja da mão estendida

A misericórdia não é simples bondosismo, mas encontrar Jesus “nos pobres, nos famintos, sedentos, refugiados, em todos os meus irmãos e irmãs necessitados”, reiterou o Cardeal Kasper.

Os santos são aqueles que levaram a misericórdia de Deus a sério. E concluiu o cardeal alemão:

“Se a Igreja não é fechada em si mesma, uma Igreja somente para uma elite, que se crê o Resto santo, que se separa da chamada massa perdida, mas uma Igreja de portas abertas, sobretudo uma Igreja pobre para os pobres, uma Igreja em saída, uma Igreja missionária, que sabe não poder falar de Deus, cujo nome é misericórdia, sem viver a misericórdia”, se não é uma Igreja “do dedo moral para cima, mas da mão estendida”, somente então “poderá irradiar um raio de luz e de calor em nosso mundo”.