III JORNADA TEOLÓGICA - CATEQUESE E LITURGIA

card jornada

 Pe. Thiago Faccini Paro

Sem dúvida você já deve ter ouvido falar da importância da liturgia na catequese e da catequese para a liturgia. De que ao longo da história houve um divórcio entre ambas e que é preciso recuperar essa unidade, pois são faces do mesmo mistério. Mas qual é papel e lugar da liturgia na catequese? Será que a função da liturgia no itinerário de iniciação restringe-se apenas as celebrações? Sem dúvida não!

Compreendemos o papel da liturgia na catequese quando refletimos sobre o termo INICIAÇÃO e suas dimensões para as ciências da religião: do latim “in-ire”, iniciação significa “ir bem para dentro”, ou seja, é o processo de imersão, que insere, esclarece e forma o indivíduo em um novo jeito de ser de uma cultura ou grupo, promovendo uma mudança de vida. Em qualquer cultura ou religião o processo iniciático pressupõe um duplo movimento: um de ensinamentos orais e um simbólico-ritual.

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Os ensinamentos orais correspondem ao querigma, doutrina e a leitura e interpretação da Sagrada Escritura, além de outros temas e dinâmicas que ajudam na compreensão do conhecimento pessoal e comunitário. Já a dimensão simbólico-ritual compreende transmitir as chaves e os códigos para a compreensão dos ritos e símbolos que constituem e dão identidade ao grupo, no nosso caso, enquanto cristãos católicos. Sem dúvida olhando nossa catequese tradicional conseguimos avançar muito na transmissão oral da fé, porém, na dimensão simbólico-ritual ainda temos muito para crescer. Prova disso é ouvirmos de fiéis que participam semanalmente de nossas celebrações eucarísticas, sobretudo os mais jovens, dizerem: “a missa é muito chata, repetitiva e monótona”. E na maioria das vezes eu dou razão a eles. Mas onde está o problema? Sem dúvida não está nas ações simbólico-rituais, ou na estrutura celebrativa da liturgia. Talvez aqui compreendamos qual o papel e importância da liturgia na catequese e em todo processo de Iniciação à Vida Cristã.

A liturgia tem sua linguagem própria, e sua comunicação se dá através de ritos e símbolos. Se não formos educados para compreender a linguagem simbólico-ritual, dificilmente as celebrações, como previstas nos livros litúrgicos serão “interessantes”. Costumo dizer que para muitos, as celebrações são como um filme em mandarim, que assistimos sem legenda, ou seja, estamos vendo a imagem, porém, não compreendemos o diálogo que ali se estabelece por não sabermos o idioma.

Para mudar esse contexto é preciso ter clareza sobre o papel e função da catequese e da liturgia na iniciação à vida cristã, superando uma visão da catequese como meramente transmissora de dogmas e doutrina e da liturgia como um conjunto de ritos e celebrações. É preciso pensar um itinerário que contemple a possibilidade de fazer com que a fé seja experimentada pelos sentidos, pela vivência e compreensão de toda ação ritual, tornando-se uma catequese que ensine e ajude a compreender a linguagem própria da liturgia, pois o significado teológico de um rito é o que dá possibilidade à sua interpretação e, ao mesmo tempo, inspira a vitalidade de sua execução.

Mas como fazer isso? Se olharmos o itinerário de iniciação dos primeiros cristãos que teve seu auge entre os séculos II a IV, ou seja, o catecumenato da Igreja primitiva, podemos perceber a unidade entre as etapas/tempos que o configuram, a ponto de não ser possível identificar onde começa uma e termina a outra. A interação entre uma etapa e outra era tamanha que na verdade não havia divisões “marcadas”. Embora este processo fosse composto por quatro tempos (pré-catecumenato, catecumenato, iluminação ou purificação e mistagogia), e três etapas (admissão, eleição e celebração dos sacramentos), sua finalidade não era dar apenas um sacramento, mas era constituir ou preparar o Discípulo Missionário de Jesus Cristo.

Do itinerário da Igreja primitiva, muito ajuda a nossa reflexão na relação catequese e liturgia, a compreensão sobre o tempo da mistagogia. O termo “mistagogia”, derivado da língua grega, e pode ser traduzido como: a ação de guiar, conduzir, para dentro do mistério, ou ainda, ação pela qual o mistério nos conduz. No catecumenato da antiguidade cristã, o termo designa, sobretudo, a explicação teológica e simbólica dos ritos litúrgicos da iniciação. O tempo da mistagogia se destinava aos neófitos durante a oitava da páscoa e tinha como prática transmitir o significado dos ritos e símbolos dos sacramentos vividos na Vigília Pascal.

Nessa época apesar de nunca terem participado de nenhuma celebração antes, e não tivessem plena compreensão de toda riqueza simbólico-ritual, os catecúmenos estavam espiritual e moralmente preparados para delas participar. Apesar disso, era necessário lhes dar as chaves, os códigos necessários para a compreensão dos ritos vividos naquela grande noite da Vigília Pascal. Essa era a função do tempo da mistagogia.

As catequeses mistagógicas não se preocupavam em dar explicações de maneira sistemática. Partiam das celebrações das litúrgicas, dos ritos e símbolos experienciados, valorizando-os e interpretando-os à luz das sagradas escrituras, mostrando o plano de salvação realizado por Deus na história. Daí identificavam o compromisso cristão perante a Igreja e a sociedade.

Mas como recuperar toda riqueza teológica das ações litúrgicas, a unidade entre catequese e liturgia e resgatar toda a metodologia do ensino e compreensão da liturgia para o itinerário de iniciação à vida cristã? 

Falar em catequese e liturgia, significa sair do campo puramente verbal, com explanações doutrinais e morais, para tornar-se uma catequese que fomente a participação ativa, consciente e genuína nas ações litúrgicas. Esse processo é possível ao não simplesmente explicar o sentido das celebrações, mas também formar a mente dos fiéis para a oração, a gratidão, a penitência e reconciliação, o espírito comunitário e o correto sentido da linguagem simbólica, uma vez que tudo isso é necessário para a experiência de uma autêntica vida litúrgica.

Responda essas e outras perguntas participando da nossa III Jornada Teológica. O autor dessas linhas estará conosco e partilhará da sua experiência pela Igreja no Brasil a fora. A participação é gratuita. Veja a programação no cartaz!  

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Mestre em Teologia pela PUCSP, além de possui graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas Soares de Oliveira (2005); Especialização em Espaço Litúrgico e Arte Sacra pela PUCRS (2008), graduação em Teologia pela Associação Rio-Pretense Católica de Ensino (2009), Especialização em Liturgia Ciência e Cultura pela PUCSP (2014). Secretário Executivo da ASLI (Associação dos Litúrgistas do Brasil) e perito do Setor de Espaço Litúrgico da Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia da CNBB. Ainda é o autor da coleção de manuais de catequese "O Caminho" e do livros "As celebrações do RICA, conhecer para bem celebrar", "Conhecer a FÉ que Professamos" e "Catequese e Liturgia na Iniciação Cristã", publicados pela Editora Vozes.

 

Fonte: Blog da catequese, publicado em 19/07/2019.